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Remadores: expedição planeja percorrer o litoral brasileiro de canoa, começando pelo Norte

Iniciativa inédita também participa de pesquisa da UFPA sobre manejo de resíduos plásticos nos rios da Amazônia

Camila Guimarães
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O litoral brasileiro é composto por 17 estados e tem mais de 10 mil km de extensão. Percorrer esse trajeto em uma canoa é o objetivo do projeto "Va'a pelo Litoral", idealizado e posto em prática pela remadora e aventureira profissional fluminense Raysa Ribeiro. A começar no Norte do Brasil, a iniciativa também deve colaborar com o meio ambiente, em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), recolhendo resíduos plásticos de rios da Amazônia para serem transformados em brinquedos e em combustível verde para moradores de regiões ribeirinhas.

A aventura partiu de um sonho pessoal de Raysa Ribeiro, natural de Niterói (RJ) e também ex-participante da primeira edição do reality show ‘Largados e Pelados - Brasil’, do Discovery Channel. Ela, que já pratica canoagem há 10 anos, conta como teve a ideia de navegar todo o litoral brasileiro em uma canoa polinésia, também conhecida como “Va’a”.

“Era 2015 e um dia eu saí para remar numa canoa individual chamada ‘Brasil’. Aí o dono do clube de canoagem passou do meu lado e gritou 'vai, Brasil!' e eu fiquei com aquilo na cabeça: 'será que alguém já remou o Brasil todo?’ Fui pesquisar e descobri que não. No ano seguinte, eu decidi fazer uma expedição com uma canoa individual e circunavegar a Ilha Grande, no Rio de Janeiro, com 130 km de circunavegação. Depois fui a primeira mulher a circunavegar Fernando de Noronha; fiz a volta de Florianópolis sozinha, a volta da Ilha de Vitória, de Santo Amaro, fui de Niterói até Ubatuba, que dá uns 170 km numa viagem de 11 dias. Depois dessas experiências, comecei a sonhar mais alto”.

image Raysa Ribeiro diz que sonho de navegar o litoral brasileiro em uma canoa se tornou um sonho coletivo (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Raysa diz que, depois de participar do reality show, em 2021, no qual passou 21 dias em uma floresta inóspita em Vichada, Colômbia, saiu de lá mais preparada para colocar seu sonho em prática. No ano passado, após maturar a ideia, ela decidiu lançar um convite aberto, via redes sociais, para que pessoas interessadas se juntassem a ela no propósito de percorrer o litoral brasileiro de canoa:

“Como mulher, eu não me sentia à vontade de fazer isso sozinha, além disso, eu tinha uma canoa de quatro lugares e precisava de três pessoas para completar. Eu sugeri que se a pessoa quisesse fazer apenas algum trecho da viagem, poderia se inscrever no link, com os pré-requisitos. Dez meses depois, eu tinha 202 pessoas inscritas. Eu recebi tantas histórias incríveis nas inscrições que eu pensei 'eu não posso deixar essas pessoas na mão'. Elas passaram a sonhar junto comigo”.

Expedição começa com os desafios dos rios do Norte

A remadora planejou percorrer o litoral de Norte a Sul em dois anos, começando em 2023, mas precisou aguardar a passagem do chamado ‘inverno amazônico’ para se aventurar na região. Em julho deste ano, Raysa veio a Belém com dois amigos, a arquiteta Tatiane Ximenes e o geógrafo Igor Fletcher, para dar início à empreitada.

“Eu sempre ouvi ela falando desse sonho e sempre soube que ia remar um pouco do litoral com ela, só não sabia qual ainda. Estamos há 12 dias fora de casa para chegar na Amazônia vindo de carro. Esse lugar é encantador. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que ia ser assim”, comenta Tatiane. “Eu nunca achei que a gente fosse chegar até aqui, mas apareceu a oportunidade de acompanhá-la e também viver essa experiência”, complementa Igor.

Faltava apenas mais um tripulante para completar as vagas na canoa, espaço que foi preenchido pelo paraense Admilson Santos, de 41 anos, que tem um clube náutico movido a remo e é o primeiro paraense a entrar na expedição.

“Eu soube do projeto através de grupos e de mensagens de amigos. Ser daqui da Amazônia e participar dessa primeira etapa é muito importante. Eu pretendo remar toda a região Norte. Até por ser daqui e poder contribuir com as nossas vivências ribeirinhas e levar um novo olhar sobre tudo”, comenta Admilson.

image Admilson Santos é o primeiro paraense a participar da expedição (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Ele, Raysa, Tatiane e Igor seguiram de Belém para Macapá, no Amapá, de onde devem dar início à expedição neste domingo, 2 de julho, remando de lá até Breves no Pará. Depois, com a troca de alguns tripulantes, a canoa segue de Breves a Belém e de Belém até Algodoal e assim em diante rumo ao Nordeste.

Admilson comenta alguns desafios dos rios da Amazônia: “Aqui no Norte preocupa alguns aspectos, como a segurança, a pirataria nos rios e, na parte da Amazônia atlântica, os fortes ventos. As cidades não são conectadas por rodovias litorâneas e nesse perímetro nós não vamos ter barco de apoio. Considerando também que a gente vai trabalhar muito com a questão das marés para favorecer a gente em alguns trechos”.

 

Preocupação com o meio ambiente

Uma das oportunidades que surgiram para fazer o projeto ir além do que Raysa imaginou foi a parceria com a UFPA. Os viajantes tiveram contato com o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental (PPGESA) da UFPA, que desenvolve uma pesquisa sobre manejo de soluções para resíduos plásticos nos rios da Amazônia. O coordenador do programa, professor Neyson Martins, explica sobre a pesquisa:

“A gente tem detectado o aumento da presença de plásticos nos rios, por isso, estamos trabalhando o gerenciamento de soluções desses resíduos. Uma delas é transformar esse plástico em brinquedos para a parte de educação ambiental e a outra seria a transformação dos resíduos em biocombustível verde, para ajudar no deslocamento das comunidades que precisam de energia para mobilidade via fluvial”.

image Neyson Martins, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Sanitária e Ambiental da UFPA, alia ciência à aventura (Cláudio Pinheiro / O Liberal)

Na prática, os viajantes devem navegar coletando os resíduos plásticos que encontrarem, fazendo um mapeamento específico para a pesquisa. “A partir do momento que a gente entrar na água, a gente já vai estar fazendo um diário de bordo do plástico que a gente localizar, fotografar, anotar a localização”, diz Raysa.

Ela e o amigo geógrafo Igor Fletcher dizem que se sentem honrados com a oportunidade de dar essa dimensão ecológica à aventura: “Acho que a informação é muito importante, a gente vai poder fazer um relatório sobre os trajetos, os tipos de plástico que a gente encontrou. De repente a gente consegue depoimentos de ribeirinhos que tragam um holofote sobre a necessidade de uma intervenção etc. No final, daqui a dois anos, a gente pode estar apresentando um painel na COP 30, de todo o litoral, algo totalmente atual, inovador e colaborativo”, comenta Igor.

O professor Neyson Martins, por sua vez, garante que a pesquisa já vem sendo pensada como uma das contribuições da UFPA para a conferência: “A ideia é chamar atenção do mundo para esses resíduos de plástico e como eles estão dispersos na região amazônica. Basicamente, todo mundo está olhando para a parte ambiental da Amazônia agora e a gente precisa mostrar que esses resíduos vão levar à degradação do ambiente. Esse projeto já é um dos que vão fazer parte da carteira da UFPA para a COP, em Belém”.

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