Futebol aumenta o risco de doenças neurodegenerativas, afirma neurologista

Os anos de alta performance muitas vezes cobram um preço caro quando o assunto é a saúde mental de atletas

Luiz Guilherme Ramos
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Os chamados "esportes de alto rendimento" constituem um grupo de atividades onde o praticamente precisa de toda sua estrutura física e mental, dada a grande exigência para enfrentar os desafios, que podem ser na figura de adversários, como também na intensa carga emocional que os sugam. Ao longo dos anos, essa somatória de fatores, quando não acompanhada de cuidados de saúde, podem desenvolver as chamadas doenças neurodegenerativas, que infelizmente acomete muitos ex-atletas na fase da velhice e acabam norteando o fim da vida de muitos ex-atletas, outra ídolos em suas respectivas modalidades.

Embora sejam mais comuns em esportes de grande contato físico, como boxe e futebol americano, o "nosso" futebol também engorda essas estatísticas. Nos últimos anos, um dos grandes ídolos da história do Clube do Remo vem enfrentando outro grande desafio, este fora dos gramados. O ex-zagueiro Dutra, que hoje tem 75 anos, é portador do mal de Parkinson, um distúrbio do sistema nervoso central que afeta o movimento, muitas vezes incluindo tremores excessivos, que comprometem as tarefas mais simples do dia a dia. Dutra marcou época como zagueiro do Remo, sendo tetracampeão paraense nos anos de 1975, 1977, 1978 e 1979. Jogou ao lado de grandes craques como Mesquita e Alcino, além de ter tido muito sucesso como treinador dentro e fora do país. Além dos títulos estaduais, também foi campeão da extinta Taça de Prata, com a Tuna Luso, em 1985.

De acordo com a família, Dutra começou a apresentar os sintomas nos últimos anos e aos poucos teve comprometido os seus movimentos. "De uns três anos para cá nós começamos a perceber as mãos dele tremerem, mas não com a frequência de hoje. De um ano para cá ele poupou muito. Ele tem uma doença degenerativa chamada parkinson, uma doença triste e devastadora. Infelizmente, aquele homem que conhecemos, o grande jogador e treinador, está sendo devastado pela doença, assim como toda a família", conta a filha, Luciana dos Santos.

image Dutra e Mesquista no lançamento do livro que conta a história de Alcino, contemporâneo no Leão Azul. (Cristino Martins / O Liberal)

A partir da identificação da doença, a família procurou atendimento médico e desde então vem sistematicamente trabalhando para atenuar os sintomas, contando inclusive com apoio médico na própria família. "Meu filho é fisioterapeuta e ajuda muito no tratamento. Eu conversei com o médico dele e ele acha que a questão do parkinson foi por usar muito a cabeça no futebol. Eu não acredito muito nisso", explica, ao citar que a condição do pai já afeta inclusive a memória.

"O papai já não tem muita noção das coisas. Às vezes tem lapsos de lembranças. Às vezes esquece a minha irmã, a minha mãe. Ele está com um pouco de demência, mas ele está vivendo um dia após o outro. A gente cuida da melhor maneira possível, pois ele sabe que está doente, às vezes diz que não entende porque está assim. É uma criança e estamos fazendo o possível para que ele tenha um fim de vida decente", reforça.

Causas

De acordo com a neurologista Stephani Martins, esse quadro degenerativo acaba sendo muito mais comum do que se imagina. "Assim como os ossos envelhecem e ficam mais fracos, o cérebro também tem o processo de envelhecimento dele. A depender da sua história genética, de como você viveu, se consome muito álcool, drogas, cigarro, se foi sedentário ou não, pressão alta, todos esses fatores aumentam os riscos de ter uma doença neurológica degenerativa, como parkinson, alzheimer e outras demências. É uma associação de fatores, tanto da genética, como fatores modificáveis ao longo da vida", explica.

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Sobre a relação das modalidades, ela explica que é possível um jogador de futebol ser acometido, por exemplo, pelo mal de Parkinson, mas numa média pouco acima do normal. "Dentro do esporte, alguns esportes que envolvem pancadas, traumas consecutivos na cabeça aumentam o risco de você vir a ter uma síndrome neurológica degenerativa, uma demência. Existem alguns esportes que envolvem impacto na cabeça e podem aumentar o risco de ter demência. O principal é o boxe, o futebol americano e o nosso futebol comum. Ele aumenta o risco em até 1,7 vezes de você manifestar em relação a população comum. As pesquisas mostram que os atacantes, aqueles que mais cabeceiam, pois eles usam muito a cabeça e isso pode causar a demência", informa.

Stephani explica que no Brasil não é muito comum, mas na Europa existem exames que podem identificar possíveis patologias futuras. Quando não identificadas em tempo, elas exigem uma série de cuidados. "O curso da doença neurológica neurodegenerativa vai ser muito peculiar em cada pessoa. Existem algumas que conseguem controlar por muitos anos, e outras com o curso mais acelerado. Para melhorar a qualidade de vida, no geral tem uma equipe multidisciplinar. Às vezes é necessário uma terapeuta ocupacional, uma fisioterapia. Esse fatores em conjunto com o bom cuidado da saúde pode levar a pessoa a ter essa melhora no quadro".

Por fim, ela diz que o melhor a se fazer é reforçar um estilo de vida saudável, ainda que essa tenha sido a tônica para muitos ex-atletas que hoje enfrentam tais questões. A prevenção é um hábito saudável, mas não tem cura. A partir da instalação da doença não existe um método de cura, mas sim medicamentos para usar em fases iniciais para diminuir a progressão da doença por muitos e muitos anos", encerra.

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