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Brechós impulsionam economia circular, que deve crescer 20% até 2030

Em Belém, os brechós estão em ascensão; mercado ganha força pelo apelo à sustentabilidade

Amanda Engelke
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Foi-se o tempo em que comprar roupas de “segunda mão” era considerado cafona ou mesmo sinônimo de itens de baixa qualidade. Hoje, este tipo de aquisição, além de ser um bom negócio do ponto de vista financeiro, também é para a sustentabilidade do planeta. É a chamada moda circular, na qual os brechós são as vitrines. O conceito é simples: manter em circulação uma determinada peça pelo maior tempo possível, evitando o desperdício, a extração de recursos naturais e a geração de resíduos.

O conceito vem ganhando cada vez mais adeptos. Um estudo sobre Moda Sustentável realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a Enjoei aponta que o consumo sustentável é uma forte tendência, com 70% dos compradores em brechós valorizando este fator, um aumento de 12 pontos percentuais desde 2018. Além disso, a pesquisa revela que os consumidores de vestuário de segunda mão buscam menos itens, mas de maior qualidade, prezando o que já possuem e reduzindo o consumo excessivo.

A principal motivação para a venda de peças usadas é a facilidade de desfazer-se de roupas não utilizadas, seguida pela intenção de liberar espaço no guarda-roupa e contribuir para uma jornada mais sustentável. Cerca de 56% dos brasileiros já realizaram pelo menos uma transação de compra ou venda de artigos usados, e o mercado de itens de segunda mão poderá crescer entre 15% a 20%, potencialmente superando o fast fashion até 2030. Contudo, 44% dos entrevistados ainda não participam desse mercado.

Em Belém, os brechós estão em ascensão. Brunna Heimann e Beatriz Batista, que organizam o encontro "É das Manas”, um evento que reúne diversas brecholeiras na capital paraense, apontam que o projeto surgiu da necessidade de visibilizar a cena local dos brechós, levando em conta a tendência local (e nacional) da migração do offline para o online. O evento foi lançado em outubro do ano passado, durante a inauguração da Casa Una Eventos, um espaço na capital focado na economia criativa e na moda circular.

No próximo domingo (11), acontece mais uma edição do projeto, que busca reunir cerca de 70 brechós em um só lugar. A atividade acontecerá no Centro Cultural e Turístico Tancredo Neves (Centur) e também contará com atrações culturais, das 10h às 21h. O objetivo é incentivar o consumo consciente e impulsionar o empreendedorismo feminino. Além disso, o evento é uma oportunidade para que donas de brechós do meio digital, em sua maioria, aproveitem para encontrar presencialmente suas clientes.

“A ideia é que elas tenham a facilidade de expor sem ter uma loja física e sem custos relacionados a ela. Atualmente, elas pagam uma taxa para participar, mas conseguem expor seu trabalho, conhecer suas clientes, que vêm ao evento presencial, conhecem as peças e podem experimentá-las, algo que o online não oferece”, explica Bea, acrescentando que a ideia surgiu de um grupo de desapego, quando Brunna começou a se movimentar para fazer um evento presencial com várias expositoras brecholeiras.

Do offline para o online: brechós aderem às lives shop

Ultimamente, as redes sociais têm transformado o mercado de brechós. O Instagram, em particular, tem sido uma das principais ferramentas utilizadas pelas empreendedoras do setor. Na plataforma, são criados os perfis dos brechós, onde se posta fotos de peças, organiza-se as vendas através de comentários ou mensagens diretas. A plataforma também permite a interação com seguidores. Além da compra personalizada, o método possibilita a criação de uma comunidade em torno da loja.

A paraense Herida Caroline, dona do perfil @desapeguecomherida, é um case de sucesso. Ela conta que começou sua trajetória no mundo dos brechós quase por acaso. Apesar de já ter familiaridade com brechós devido à acessibilidade e ao estilo único das peças, a virada de chave foi após se mudar para Curitiba, onde percebeu que o mercado de brechós era mais desenvolvido e reconhecido. Sem emprego, ela viu na crise uma oportunidade e decidiu montar um espaço em sua nova casa dedicada ao brechó.

image A paraense Herida Caroline empreende através de lives shop, no Instagram. (Divulgação)

Herida começou a vender online para se reinventar e alcançar sua independência financeira. Ela inicialmente vendia roupas e itens locais, mas logo migrou para o Instagram para expandir seu alcance. Devido a experiências negativas com fraudes em marketplaces, optou por realizar lives. Nas chamadas “lives shop”, Herida demonstra e discute produtos em tempo real com os clientes. “É uma interação mais direta e pessoal, além de ser uma experiência de compra mais envolvente e segura”, diz a empreendedora, que já conta até com funcionários.

Atualmente, Herida explica que os clientes a contratam para organizar e garimpar itens em seus armários. Durante o processo, ela avalia os itens disponíveis e seleciona aqueles que têm potencial de venda. Em seguida, organiza e realiza a live. "Os clientes me mostram seus armários e eu seleciono o que pode ser vendido. Depois, durante a live no Instagram, apresento esses itens, falo sobre suas características e história, o que realmente ajuda a conectar os produtos com os compradores", diz.

As lives de Herida funcionam como um brechó online interativo. Neste momento, os clientes podem fazer perguntas em tempo real, escolher produtos e concluir compras diretamente. Ela vende desde roupas até móveis e decoração, e chega a vender itens com preços que podem chegar a R$ 2,5 mil, dependendo da marca e do tipo de produto. Além disso, existe a possibilidade de enviar produtos por correio para clientes em todo o Brasil. “Hoje eu envio mais de 120 kg de produtos por correio semanalmente”, conta Herida.

Preconceito ainda é o principal desafio no mercado

Apesar do crescimento e popularização dos brechós, especialmente no mundo online, ainda existem desafios relacionados ao preconceito e à percepção do mercado. Brunna Heimann, do "É das Manas", relata que em Belém o preconceito ainda é um obstáculo a ser superado. “Muitas pessoas ainda associam a compra de roupas de segunda mão a itens de baixa qualidade ou a peças que custam somente R$ 10,00. Este estigma dificulta a expansão do mercado e a aceitação plena dos brechós como alternativas viáveis e desejáveis de consumo”, avalia.

Brunna destaca que um dos aspectos mais gratificantes de empreender neste setor é justamente a oportunidade de desmistificar essas noções preconcebidas. "O maior desafio desse ramo é o preconceito. Em Belém, especificamente, a cultura de consumo de brechós ainda é vista de forma estigmatizada", explica. A empreendedora vê cada venda e evento como uma chance de educar o público sobre o que realmente significa o consumo consciente e o impacto que pode ter, não apenas para o ambiente mas também para a moda como um todo.

Herida também vê suas lives como uma forma de quebrar estereótipos. "Cada peça tem uma história e trazer isso para o público durante as lives ajuda a valorizar cada item e o trabalho por trás do brechó. Ainda existe uma grande resistência ao consumo de peças de segunda mão, muitas vezes vistas como menos desejáveis ou inferiores. Minha missão com as lives é não apenas vender, mas também educar e mostrar que moda sustentável é sobre qualidade e exclusividade", comenta a empreendedora.

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