Inundações no RS podem provocar subida no preço do arroz no Pará
Região Sul é uma das principais exportadoras do cereal para todo o país
As enchentes no Rio Grande do Sul (RS), causadas por tempestades registradas desde o dia 27 de abril e impulsionadas por outras variações climáticas, podem afetar a logística de abastecimento e distribuição de alimentos em diversos estados brasileiros, incluindo o Pará. Isso porque a região Sul do país é uma das principais produtoras agrícolas, com destaque para a forte exportação do arroz e da soja. Representantes do setor alimentício no Pará garantem que não haverá desabastecimento desses produtos, mas o aumento no preço do arroz, por exemplo, já pode ser percebido.
O cereal é um dos principais produtos de base alimentar importados do Rio Grande do Sul, de acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). O Vale do Jacuí, no centro-sul gaúcho, foi uma das primeiras regiões atingidas pelas inundações; junto com Costa Doce, no sul do estado, elas concentram a maior produção de arroz do RS. “Estávamos no início da colheita do arroz no RS quando começaram as chuvas. Essas duas regiões, hoje, estão incomunicáveis. Nós vamos depender do arroz de outros locais, principalmente do que é produzido na região do Marajó e alguma coisa que vem do Maranhão”, informa Guilherme Minssen, zootecnista e diretor da Faepa.
Regularmente, 20% do arroz comercializado no Pará é de origem marajoara, produzido em fazendas que também cultivam milho. Considerando que o tempo de transporte do arroz do Rio Grande do Sul até o Pará é de quatro dias, as chuvas no território gaúcho já estão impedindo a chegada do cereal aqui: há caminhões que foram buscar o produto e não conseguiram voltar, bem como veículos que deixaram de ir por conta da impossibilidade de tráfego.
Na noite deste domingo (05/05), a Defesa Civil do RS informou que 78 pessoas já haviam morrido e outras 105 estavam desaparecidas por conta dos temporais. Com 110 trechos rodoviários total ou parcialmente bloqueados, em 61 estradas, a circulação de insumos está inviabilizada para todo o país. “As informações que nos chegam da Ceasa [Centrais de Abastecimento] do Pará é de que há um grande desabastecimento em São Paulo: os galpões estão secos, porque não estão recebendo hortifrutigranjeiros do Rio Grande do Sul e, consequentemente, não estão passando para a Região Norte”, acrescenta Minssen.
Por esse motivo, ainda esta semana, o abastecimento de locais que dependem dos grandes centros de distribuição, como a Ceasa-PA, deve ser prejudicado. “Um dos produtos é a cebola, que vem da região de Palmares, no sul do RS. Esperamos que até quinta-feira (09/05), as águas baixem no entorno da grande Porto Alegre. Se não, vamos nos abastecer de Santa Catarina, que produz 30% da cebola nacional, porém, mais caro”, complementa o diretor da Faepa.
‘Não vai ter escassez’
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) informa que, apesar da safra recorde de alimentos em 2023, o início de 2024 foi marcado por variações climáticas extremas em todo o país, entre chuvas intensas e seca em rios, como os da região Norte. “A depender do processo de recuperação dessas áreas e também da reorganização da cadeia de produção e distribuição de alimentos, o impacto das chuvas no RS vai ser pra todos os estados. Não vai ser só o Pará buscando alimentos que o Sul deixa de produzir”, avalia Everson Costa, supervisor técnico do Dieese no Pará. Com a troca dos estados fornecedores – São Paulo e Bahia, exemplos citados –, a logística na distribuição de alimentos poderá impactar os preços. “Porém, ainda não dá pra avaliar qual percentual e em quais produtos a gente vai ter mais impactos”, finaliza Costa.
Além do arroz, a Associação Paraense de Supermercados (Aspas) cita a soja como outro produto de origem gaúcha que poderá implicar na reorganização da logística de abastecimento alimentício nacional. “Não vai ter escassez, porque eles [arroz e soja] vêm de outras localidades”, explica Jorge Portugal, presidente da Aspas. “A gente acredita que, se houver alguma diminuição na oferta, o impacto deverá ser pequeno aqui no estado”, acrescenta. Na opinião de Minssen, por ser base alimentar dos animais monogástricos, a soja em falta pode inflar o preço das carnes suína e aviária. No entanto, não é possível afirmar quando, nem de quanto será o aumento.
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