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Das artes: Daniel Munduruku tem personagem em horário nobre da Globo

Premiado e agora global, paraense fala sobre carreira, desafios e voz ativa

Bruna Dias
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Com estreia marcada para o próximo dia 08 de maio, a novela ‘Terra e Paixão’, entrará na grade da TV Globo, em horário nobre, às 21h. Com o objetivo de ter histórias que emocionam e levantar conversas e debates importantes para a evolução da sociedade, a trama chega com um elenco cheio de indígenas.

Entre os personagens que fazem parte do núcleo da etnia Guató, está o paraense Daniel Munduruku. Interpretando o pajé Jurecê Guató, um homem cheio de sabedoria, um xamã. Ele é procurado pelo povo da cidade, graças a sua grande sabedoria.

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Daniel Munduruku é ator, escritor, professor e ativista indígena brasileiro. Tem mais de 60 livros publicados, e vários prêmios, entre eles, dois prêmios Jabuti a uma láurea da Unesco, passando por duas ordens do mérito cultural e um prêmio da Academia Brasileira de Letras.

No início do ano, ele postou uma foto do crachá da Globo, anunciando a contratação: “O doutor em educação e escritor, Daniel Munduruku foi contratado pela Rede Globo”. Além da atuar, ele também deu consultoria para a novela.

Veja a entrevista exclusiva com Daniel Munduruku:

Daniel, você tem um trabalho grandioso nas artes e em grande parte voltado ao público infanto-juvenil. Qual a necessidade de fazer as pessoas conhecerem desde cedo a cultura indígena?

DM: Historicamente os brasileiros foram alijados de aprender sobre os povos indígenas. Às crianças e jovens foram negados os saberes da tradição. Isso gerou um povo sem identidade, sem autoestima, sem pertencimento. Nossas crianças crescem com a cabeça colonizada e distante de suas raízes ancestrais. No meu entender é fundamental oferecer a elas esse retorno. Isso é a garantia de realização pessoal, de participação cidadã e comprometimento com os rumos do país. Os povos indígenas podem oferecer tudo isso a elas desde que sejam apresentados de forma humana, sem estereótipos e preconceitos. Nossas crianças crescerão com uma visão livre e se tornarão capazes de ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor para se viver.

Na segunda temporada de Cidade Invisível temas das lendas amazônicas são abordados e você fez parte da consultoria do roteiro, em paralelo, no elenco vemos poucos artistas nortistas. Qual a importância da Amazônia falar sobre a Amazônia?

DM: Há um movimento acontecendo na sociedade brasileira e em suas produções audiovisuais. É um movimento que começa pequeno para, depois, virar uma verdadeira piracema. É preciso dar tempo ao tempo. Essas mudanças já começam a ser vistas e penso que logo menos vamos ter maior protagonismo das regiões nas telas. Há uma chave que está virando, mas isso passa por uma mudança lenta, gradual. Tenho muita esperança de que em breve a Amazônia será representada pelos amazônidas. Isso vai acontecer com maior força. Cidade Invisível está provando que temos bons atores indígenas que podem surpreender.

Agora você está na Globo e vai fazer parte de ‘Terra e Paixão’, como tem sido a preparação para a trama?

DM: Minha participação como ator é relativamente tranquila, mas importante para o desenvolvimento da trama. Faço um personagem cuja sabedoria vai conduzir os personagens principais influenciando suas decisões. Eu acho que o personagem não se distancia muito do que já faço no meu trabalho como educador. Tento apenas fazer coro aos propósitos que movem o personagem e que, no fundo, se confundem com os meus próprios. Já me sinto preparado para isso (risos).

Você já estava na Globo dando consultoria, agora está interpretando um personagem. Como tem sido trabalhar com grandes atores brasileiros e se tornando um deles?

DM: Na verdade, a consultoria veio junto com o convite para interpretar o pajé Jurecê, meu personagem. Walcyr Carrasco me convenceu da importância de protagonizar encarnando-o. Relutei em aceitar o papel por não me considerar à altura. Mas isso durou só até o segundo parágrafo. Sou consultor e ator ou ator e consultor. Confesso um pouco de medo e expectativa.

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5 – Você é dono de uma voz muito potente para os temas que envolvem os indígenas através da sua escrita, como tem sido adentrar em diversas bolhas?

Sem falsa modéstia posso dizer que me preparei para isso. Talvez por isso prefira não usar o termo ativista para o que faço. Desde jovem estudei a pampas para dominar os códigos da cultura ocidental sem me afastar demais dos princípios ancestrais que carrego comigo. Isso não foi sem dor, sem sacrifícios. Hoje vejo que consigo “trafegar” por diferentes bolhas porque fui dominando suas linguagens. Hoje converso com crianças, jovens, educadores, empresários, acadêmicos, políticos e religiosos com a mesma desenvoltura, sem submissão. Mas isso é resultado do empenho que fui tendo. Não é mérito, simplesmente. É compromisso.

As artes estão cada vez mais encontrando na cultura indígena e na peculiaridade dos diversos povos da sociedade novas histórias para serem contadas. Como você vê esse novo cenário?

DM: Acho que o Brasil está acordando para sua própria história mal contada. Quando esse despertar acontece nasce a necessidade de recontá-la sob outras óticas e perspectivas. Somos um país que foi educado para o esquecimento, mas trazemos dentro de nós a semente da ancestralidade. Natural que hoje os produtores de conteúdos percebam que fomos alijados de nossa própria história. Acho esse movimento essencial para que o despertar aconteça de verdade. Estou muito esperançoso.

quais os seus novos projetos? Vamos ver mais o seu trabalho como ator? Tem livro novo?

DM: Estou focado neste trabalho com a TV Globo. Não faço ideia se isso vai vingar e virar outros contratos de atuação. Realmente não me preocupo com isso. Por outro lado, continuo cumprindo uma agenda de compromissos pessoais participando de eventos literários, ministrando palestras, fazendo curadorias, promovendo eventos diversos. Ou seja, continuo sendo eu mesmo, agora vivendo um novo papel no palco da vida. Tenho, claro, planos para novos livros, talvez roteirizar alguma obra para transformá-la em filme ou peça de teatro. Já aprendi, há algum tempo, que não dá para fazer tudo. Faço o que é possível com aquilo que tenho à minha disposição. É isso.

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