COP 30: especialistas apontam soluções para os gargalos enfrentados por Belém
Violência e trânsito estão entre os principais desafios para a realização da COP 30, em 2025
Aprimoramento das forças de segurança, contratação de agentes de trânsito e ampliação das vagas no setor de hotelaria. Essas são algumas das soluções apontadas por especialistas e moradores para os gargalos enfrentados por Belém e apontados na pesquisa de opinião feita pela Quaest, enviada com exclusividade ao Grupo Liberal.
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O levantamento mostrou os maiores desafios da preparação da cidade para receber a COP 30, em 2025. A pesquisa foi feita a partir de 880 entrevistas, entre os dias 21 e 27 de junho, com eleitores da capital que têm 16 anos ou mais. A margem de erro é de cerca de 3,3 pontos percentuais.
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No item segurança, o mestre e especialista em Segurança Roberto Reis defende um aprimoramento das forças que compõem o Sistema Integrado de Segurança Pública e Defesa do Estado do Pará. Mas destaca que a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros “já são extremamente capazes e bem treinados. São duas das melhores forças do Brasil. Não é uma capacitação, mas um aprimoramento”.
Para ele, é muito importante que forças de segurança do Pará pensem, nesse momento, em alinhar a sua atuação operacional às de outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, que já há certo tempo têm experiência na realização de eventos de grande porte.
Roberto Reis também diz ser muito relevante que se aumente o monitoramento que existe em todas as regiões das cidades, em especial nos locais onde o evento vai ocorrer, mas sem esquecer das outras áreas que, historicamente, já têm apresentado relativas ocorrências, sobretudo de crimes patrimoniais ou de outras violências. Essas são medidas de médio prazo.
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Segurança pública não se faz só com polícia na rua, diz especialista
“Mas é importante relembrar aquela máxima de que, onde o estado não ocupa o seu espaço, outras forças, como o próprio crime, também ocuparão”, disse. “Nunca é demais dizer que é necessário olhar com carinho para a nossa cidade, pensar em maiores medidas de assistência social, preservação do meio ambiente, garantia de emprego e renda para a nossa população, criação e favorecimento do surgimento de instâncias sociais, como agremiações comunitárias, escolas, que sempre são fatores que influem positivamente na redução da criminalidade como um todo”.
Roberto Reis afirmou ainda que segurança pública não se faz só com polícia na rua. “Se faz, acima de tudo, garantindo dignidade para a população, evitando, assim, que o crime se torne uma alternativa para muita gente”, acrescentou.
Para o vendedor de salada de frutas Paulo Martins, e também no quesito segurança, Belém não está preparada para receber grandes eventos. “Está deixando a desejar ainda. A gente vê mais segurança no centro, na periferia tem pouco”, afirmou. Segundo Paulo, esses grandes eventos vão atrair muita gente para a capital, do que vão ser aproveitar os assaltantes, por causa da grande movimentação na cidade. “Precisa ter um policiamento mais constante e à noite também, que está deixando a desejar”, afirmou.
Especialista defende incentivo ao uso do transporte público
Especialista em trânsito, Rafael Cristo disse que mobilidade urbana e trânsito seguro são dois dos desafios para autoridades envolvidas na realização da COP 30. Ele afirmou que Belém tem o menor número de agente de trânsito da capital do país, o que acaba impactando no comportamento dos cidadãos.
Por isso, ele defende a realização de concurso público para contratar mais agentes. Também defende o incentivo ao transporte público e a realização de obras estruturantes, como, por exemplo, a abertura de vias para saída da cidade. E, ainda, a implantação de um moderno e eficaz modelo para estacionamento de veículos na área central da cidade.
Em relação ao trânsito, Belém ainda não está preparada para receber grandes eventos, segundo o professor Roberto Alcântara, morador da capital. “Ainda falta muita estrutura na mobilidade urbana”, afirmou. Se referindo ao evento Diálogos Amazônicos, realizado na semana passada, ele falou sobre o caos no trânsito na área central de Belém.
“É preciso realmente alguns investimentos, principalmente na questão da mobilidade no que diz respeito ao transporte público, para que as pessoas possam deixar um pouco os veículos em casa e se locomoverem na cidade sem tanta preocupação de onde deixar o veículo e não pegar um trânsito tão congestionado como a gente está vendo agora”, afirmou.
No setor de hospedagem, o “gargalo é imenso”, diz assessor jurídico do sindicato da categoria
Para o assessor jurídico do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS), Fernando Soares, disse que, no ramo de hospedagem, há, em um primeiro momento, um “gargalo imenso”. A expectativa é da participação de 193 países. A estimativa do governo estadual é que o evento atraia de 60 mil a 70 mil pessoas em Belém. O SHRBS acha que esse número será um pouco superior, pois há pessoas que podem vir do interior do estado para participar dos eventos.
Na cidade de Belém tem pouco mais de 12 mil leitos disponíveis para a utilização. Se contar com a área metropolitana, e vai até Castanhal, chega a 25 mil leitos, contando com pousadas, motéis, apart hotéis, pensões, entre outros. Isso configura apenas 42% da capacidade necessária. Para a entidade, a ajuda do poder público será fundamental nesse processo de construção.
“Se você considerar que são delegações diplomáticas, a gente vai ter uma dificuldade para acomodar esse pessoal”, afirmou. Outro entrave é nas dificuldades de alimentação, porque existem algumas delegações que têm costumes próprios. Acomodar isso dentro de uma cidade – é claro que a gente tem tempo suficiente para se preparar - é complicado.
Outro complicador: delegações de determinados países, como Israel, não ficam junto com árabes, que não ficam junto com americanos. E trazem os seus próprios seguranças. “Ou seja, é uma situação atípica. Nunca tivemos um evento dessa magnitude em nível mundial. Ainda não estamos preparados para a recepção desse evento a contento”, afirmou.
No dia 9 deste mês, o governo do Estado anunciou a modernização dos leitos de hotel já existentes. Outra ação é a utilização de espaços públicos, como, por exemplo, as escolas para “que possam ser modernizadas e utilizadas no período da COP como áreas de leito”.
Entre as outras estratégias estão a seleção e classificação de imóveis que estejam sendo utilizados por servidores públicos. E navios do Porto de Belém poderão servir como leitos de alto luxo para chefes de Estado.
A 30ª edição da Conferência das Partes (COP), encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima que será realizado em Belém em 2025, também foi tema da pesquisa de opinião da Quaest. Os quatro pontos mais sensíveis são, pela ordem: 22% dizem que a cidade não tem estrutura; 16% citam a violência como gargalo; 14% dizem que o trânsito é ruim; e 8% citam o acesso a hospedagem como entrave.
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