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Sexta-Feira Santa é dia de devoção nos terreiros de umbanda e candomblé em Belém

Integrantes de religiões de matriz africana fizeram a peregrinação das sete igrejas, que relembra a morte de Jesus

Eduardo Rocha
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Os integrantes de religiões de matriz africana também participam das celebrações da Semana Santa, data do calendário cristão que relembra a Paixão de Cristo. E os rituais nos terreiros acompanham a Quaresma. Mas, para os pais e filhos de santo, ela tem um significado diferente. Enquanto as religiões cristãs celebram a ressurreição do Cristo, relembrando o seu sacrifício e morte, na umbanda e no candomblé é celebrado o Lorogun, período em que os Orixás guerreiam contra o mal para garantir o pão de cada dia aos seus filhos. 

O ritual começa na quarta-feira Santa, quando são vestidos os Orixás da casa e cada filho de santo oferece a eles sua comida favorita. Os atabaques que acompanham os tambores são recolhidos e "acordados" somente no Sábado de Aleluia. Em Belém, outro ritual se tornou tradição. Na Sexta-feira Santa, às 6h, praticantes do Tambor de Mina, uma vertente irmã da umbanda, saem em peregrinação pelas sete igrejas.

O pai de santo Elivaldo Santos, 59 anos, responsável pelo terreiro de Rei Sebastião e Toya Jarina, no bairro do Mangueirão, lidera um grupo de 80 pessoas, todos filhos e filhas de santo, que cumpre esse ritual. "Foi acessa uma vela e deixada uma moeda em cada uma das igrejas. A vela simboliza a tocha da noite em que Jesus foi entregue aos romanos e, como Judas trocou Jesus por moeda, se deixa moeda para simbolizar a devolução daquelas moedas, dizendo que não trocamos Jesus", explica Pai Elivaldo.

Ele conta que das 12h às 15h10, período que, na Sexta-feira da Paixão, remete às três horas da agonia de Jesus Cristo na via crucis, os filhos e filhas de santo se recolhem nos terreiros, assim ocorreu hoje (29) no terreiro de Pai Elivaldo. Depois das 15h é feita a lavagem da Casa. "Nós ficamos em jejum das 6h às 16h, quando, então, vamos almoçar", explica o líder, que há 32 anos trabalha a serviço da religiosidade e é responsável pela formação de 168 filhos e filhas de santo e de quatro casas religiosas. 

Depois do almoço, eles descansam para, logo em seguida, começar os preparativos para a Salva de Aleluia, que começa às 5h do Sábado de Aleluia (30). Nessa programação, haverá o ritual do tambor e a manifestação dos caboclos, para purificação dos pecados. "A Paixão fala do amor de Jesus por nós. Temos que demonstrar a Paixão de Jesus em nossos corações, com amor ao próximo. Pela falta de amor, crucificaram Jesus. A Ressurreição indica a volta, que nós podemos ressurgir de situações muito difíceis, do fundo do poço, com Jesus, mas temos de ter a vontade de ressurgir", pontua Pai Elivaldo.

Neste final de semana haverá ritual e atividades lúdicas, além da distribuição de ovos de Páscoa, para celebrar a Ressurreição de Cristo nos terreiros de Pai Elivaldo em Belém e no município de Igarapé-Açu, no nordeste do Pará.

image Preparativos no terreiro de Pai Elivaldo para a Páscoa (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

Sincretismo

Nesta Sexta-Feira Santa, em terreiros de religiões de matriza africanas são feitas orações e, inclusive, rezado o Terço. Francisco Nonato Paiva, conhecido como Pai Chico na umbanda e como Dote Oya Logunssy Nironge no Candomblé, destaca que o sincretismo entre os cultos de origem afro e o catolicismo data do período da escravidão, em que os escravos negros davam nomes de santos católicos a orixás para escapar do cerco de seus patrões. Nesse caso, Oxalá é o orixá da paz, Senhor do Branco e, no sincretismo, corresponde a Jesus. Este ano, Pai Chico não pôde peregrinar pelas igrejas, por estar se recuperando de uma cirurgia.

image Pai Chico: Sexta-Feira Santa é dia de reflexão para todos (Foto: Divulgação / Arquivo Pessoal)

No candomblé, na Sexta-Feira Santa, há terreiros que fazem vigília e encaminham oferendas para Oxalá. Em todas as sextas-feiras do ano, os praticantes costumam se vestir de branco em honra ao orixá. Já na umbanda, os integrantes fazem a peregrinação das sete igrejas, recolhem-se por 12 horas no terreiro para rezar o Terço e fazer oferendas envolvendo o pão, frutas e sangria feita de vinho, água e açúcar. Jesus é chamado de Oxalá entre os umbandistas e tem sua imagem colocada nos terreiros. 

"A Sexta-Feira Santa é quando se lembra da Paixão e Morte de Cristo, essa Paixão por nós, ele carregou nas costas os nossos pecados para termos salvação", observa Pai Chico. Na umbanda, celebra-se o Sábado de Aleluia, quando o caboclo bate a mão do médium na pedra, para a purificação dos pecados. Na Páscoa, ocorre a confraternização, é servido um almoço no terreiro. "Jesus veio até nós, é o Filho de Deus, para trazer os ensinamentos, a verdade. Deus o mandou à Terra, muitos não acreditaram nele, mas essa verdade que ele trouxe permanecerá para sempre", salienta Pai Chico.

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Belém
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