Professora comemora desempenho de alunos da rede pública na Redação do Enem 2023

Com notas chegando a 980 na prova, estudantes confirmam confiança no trabalho da escola pública

Eduardo Rocha

Quando se olha para as imagens da professora Ione de Jesus Araújo Franco sentada ao lado de estudantes nas escadarias da Escola Estadual Albanízia de Oliveira Lima, em Belém (PA), comemorando as notas elevadas dos alunos na Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2023) -- 75 notas acima de 900 em 2023, sendo 5 notas 980 -- dá para entender o porquê. A educadora se transforma ao longo do ano em professora e aluna para aprender com eles próprios a lapidar os textos dos estudantes, com vistas a essa prova do Enem, numa troca de confiança dela para com os estudantes e vice-versa. "Como não estar feliz por eles? E isso também não me surpreende, o resultado deles não me surpreende. Muito pelo contrário, eu já sabia que eles seriam capazes de fazer um bom texto para obter essas notas tão altas. São alunos que têm potencial e eu sempre aposto muito nesses meus alunos", afirmou, emocionada, Ione Franco na comemoração com os discentes na escola, nessa semana, quando o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou as notas do Enem 2023.

No Enem 2022, 26 alunos da "Albanízia de Oliveira" tiraram mais de 900 pontos na Redação, agora, no Enem 2023, foram 75, ou seja, quase o triplo de 2022. No Enem 2022, 61 tiraram entre 700 e 980 na prova; no Enem 2023, pelo menos 200 tiraram mais que 780 na Redação. 

Tirar nota superior a 900, e até 980, não é pouca coisa. Isso porque, em muitos casos, jovens não gostam de ler nem de escrever, nem de praticar redação. Mas, é justamente essa prática lesiva ao estudante/cidadão que é revertida pela professora Ione Franco. 

image Professora Ione Franco e estudantes da Escola Albanízia de Oliveira": notas altas na Redação do Enem 2023 traduzem esforço conjunto (Foto: Agência Pará)

Arte de escrever

"Eu trabalho, há 8 anos, um método intenso de introdução, desenvolvimento, conclusão, proposta de intervenção, muitos repertórios, para que eles possam treinar também. O treinamento é intenso, construir e reconstruir muitas e muitas vezes um texto. Sem estar necessariamente preocupado com nota 1000, eu combato um pouco isso. Mas, sim, ter o domínio da arte de escrever", revela a professora. 

"Então, o treinamento do método com repertórios, os elementos coesivos que são extremamente importantes, os operadores argumentativos são todos importantes e os alunos terem aquele pensamento crítico, prepará-los para isso, para conhecer o que de fato a sociedade enfrenta, como que eles devem olhar, como eles devem pensar, como eles devem refletir e assim aplicar dentro do texto", complementa a educadora.

Essa resiliência para "construir e reconstruir muitas e muitas vezes um texto" é fortalecida pela educadora e acaba se tornando um exercício para a vida tanto dos estudantes quanto para a professora. E isso ao longo do ano, quando, então, Ione Franco incentiva os alunos a gostarem de ler, a partir de recursos os mais variados, incluindo ações nos espaços da escola e os recursos tecnológicos, como celulares. Tudo com foco em uma boa prova de Redação. Nesse processo, os estudantes acabam descobrindo potencialidades que nunca tinham percebido neles mesmos e, ainda, tendo um novo olhar para a realidade e para a área da comunicação, do interrelacionamento com o outro.

Mãe na escola 

Para que os estudantes assimilem, de fato, o processo construtivo das redações, a professora Ione torna-se uma verdadeira mãe deles. Ela faz o atendimento individual a cada um deles, e a qualquer hora, o que se torna um incentivo a mais para meninos e meninas. Ione adotou essa iniciativa ao identificar na escola grande dificuldade por parte dos alunos para assimilar conteúdos, em especial, a Redação. Ela atua na rede pública há 25 anos, e há cerca 14, na "Albanízia de Oliveira".

Ione criou, então, o método "Construção e Reconstrução do Texto", com foco em texto dissertativo-argumentativo, válido para o Enem. Em um trabalho de formiguinha, Ione Franco levanta as dificuldades de cada aluno e, aí, trabalha os fundamentos mais rudimentares, desde, por exemplo, caligrafia e divisão silábica, para desembocar na redação. Ela atende de 30 a 40 estudantes por dia, na filosofia de trabalho fundamentada no própria experiência que teve para aprender conteúdos na escola. Ione Franco é formada em Letras na Universidade Federal do Pará (UFPA) e pós-graduada em Abordagem Textual na área de Linguística. 

A história do Enem 2023 ainda não terminou, mas as imagens dos estudantes da "Albanízia de Oliveira" segurando plaquinhas com as notas altas na Redação, ao lado da professora Ione, reafirmam o empenho de todos por melhores dias, a qualidade da escola pública e o fato de que saber ler e escrever faz com que se conte uma nova história para jovens de famílias de baixa renda.

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Belém
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