Pacientes têm atendimento odontológico inclusivo, gratuito e humanizado na UFPA

Com 15 anos de atuação na Faculdade de Odontologia, o Sidope atende pacientes com alterações comportamentais e neuropsicomotoras, com doenças raras ou com autismo

Elisa Vaz

Atender de forma humanizada pacientes com alterações comportamentais e neuropsicomotoras, com doenças raras ou com autismo é o principal objetivo do Serviço Integrado de Diagnóstico Oral e Atendimento Odontológico a Pacientes Especiais (Sidope), projeto de extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA) que funciona em Belém há 15 anos. Com dois profissionais disponíveis pela manhã e mais dois à tarde, o Sidope atende, em média, 20 pessoas por dia, somando, portanto, cerca de 400 atendimentos mensais no projeto. Tem atendimentos odontológicos gratuitos, especializados e humanizados da equipe da Faculdade de Odontologia. Os serviços incluem a parte preventiva, cirurgias orais menores, endodontia e ortodontia. No caso de cirurgia oral maior, é chamado um especialista parceiro que realiza os procedimentos mais específicos.

Professor associado da UFPA e coordenador do Sidope, Erick Nelo Pedreira explica que a ideia surgiu a partir de uma pós-graduação feita por ele em Bauru, e hoje o projeto funciona com uma equipe de dentistas, auxiliares de saúde bucal, técnicos, cirurgiões e um corpo jurídico que colabora para o funcionamento do serviço. Todos os profissionais que atuam na iniciativa têm capacitação no atendimento odontológico de pacientes especiais, e uma das vertentes do Sidope é a oferta de cursos nesta área.

“A gente percebe que aumentou muito o número de pacientes que apresentam algumas alterações de caráter neurológico, psíquico, motora, síndromes. Portanto, havia necessidade de ter um serviço com olhar diferenciado para essas pessoas e que valorizasse o manejo dos pacientes e a maneira como eles são atendidos. O procedimento odontológico é o mesmo. O que diferencia é o manejo, como você vai abordar. Às vezes, pacientes autistas precisam de quatro sessões para serem condicionados, é essa especificidade que torna um serviço diferenciado”, relata o coordenador.

Como funciona o atendimento

Segundo a coordenadora administrativa da clínica, Suzete Matos, todos os pacientes precisam estar com a documentação e os exames em dia para serem atendidos. “Como a gente trabalha com pacientes com algumas necessidades especiais ou sistêmicas, precisa conhecer o todo. Não é só olhar a boca, a gente procura saber como ele está clinicamente, a necessidade para aquele atendimento. E por isso os exames dele devem estar de acordo, assim como a medicação, para fazer o procedimento com mais segurança e dar segurança para o paciente”, explica. Entre os exames estão os de rotina, e os documentos incluem cartão do Sistema Único de Saúde (SUS), comprovante de residência, RG e CPF.

O público-alvo do projeto não inclui apenas os moradores de Belém ou da Região Metropolitana, mas de todas as cidades do Pará e até de outros estados, como Suzete diz que já ocorreu. “A gente acolhe não só os pacientes dos bairros de Belém, mas os ribeirinhos, pacientes de outros municípios e também de outros estados. Nós temos pacientes aqui até do Maranhão, de Macapá, que chegaram aqui procurando atendimento e a gente acolheu”, conta a coordenadora administrativa.

Uma dificuldade, conforme o professor Erick Pedreira, é quanto ao orçamento para o Sidope funcionar. Até três anos atrás, o grupo tinha um convênio com a Prefeitura Municipal de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), que acabou sendo interrompido. Hoje, o serviço funciona com verbas de outros projetos e com doações. Ao longo dos 15 anos de atuação, o coordenador da iniciativa conta que foram atendidas cerca de quatro mil pacientes odontológicos pelo SUS, e a ideia é que o serviço se torne referência no atendimento odontológico ao paciente especial.

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Mãe fala sobre evolução do filho

A dona de casa Ivone Costa, de 45 anos, conheceu o projeto após um acidente envolvendo seu filho, Gabriel Silva, de 16. Na época, aos nove anos, ele caiu na escola e quebrou um dente da frente, então a mãe precisou buscar atendimento especializado. Ivone conta que chegou a ir em clínicas particulares, mas nenhuma tinha profissionais capacitados para atender o paciente, que tem paralisia cerebral, até que recebeu uma indicação de outra mãe sobre o Sidope.

image Mãe e filho, Ivone Costa e Gabriel Silva conheceram o projeto da UFPA após ele se acidentar na escola e quebrar um dente da frente (Carmem Helena / O Liberal)

“Corri para cá, fui bem atendida, acolhida por esse grupo maravilhoso que eu já conheço há um bom tempo. Meu filho tinha medo de dentista e quando aconteceu esse acidente foi muito triste. Mas eles abriram a porta para a gente e só tenho coisas boas a falar daqui, sempre deram muita atenção. É um projeto maravilhoso não só para o meu filho, mas para todas as outras crianças que vêm com paralisia, com autismo, que precisam desses cuidados de especialistas dedicados a eles”, comenta a mãe.

Além do tratamento após o acidente, Gabriel também fez outros atendimentos no projeto ao longo dos anos, incluindo a prevenção e o uso de aparelho para a correção da posição dos dentes - hoje, inclusive, ele frequenta o projeto para realizar a manutenção do aparelho. “Ele já sente que aqui é parte da casa dele. Fala: ‘vou para lá cuidar dos meus dentes com as tias’”, diz Ivone. Gabriel é atleta, faz corrida de rua e é estudante de ensino médio, se preparando para o vestibular.

Humanização do serviço

Dentista ortodontista, Juliana Borborema está entre os membros do Sidope e atende pacientes especiais. Ela explica que é necessário fazer uma adaptação, já que, muitas vezes, trata-se de um tratamento mais lento. “Nós temos que adaptar o ambiente, não pode ter muita gente, eles têm que se sentir seguros, então a gente vai fazendo de forma mais pausada, até eles ganharem confiança. O que a gente percebe é que o tratamento é um pouco mais complexo, que requer uma higiene diferenciada do paciente, então a gente vai tendo que adaptar o tratamento para esse público, mas, na maioria das vezes, eles são super receptivos e abertos e se adaptam super bem ao tratamento, só é um pouquinho diferente o manejo”, comenta.

Para que o atendimento seja bem-sucedido, é preciso ser humanizado, segundo a profissional. Dessa forma, para ela, o diálogo flui melhor e, consequentemente, o tratamento também. “Como eles têm que vir aqui todo mês fazer a manutenção do tratamento ortodôntico, a gente precisa realmente ter um bom relacionamento para tudo fluir. Isso contribui para o resultado”, garante. O Sidope não apenas oferece tratamentos odontológicos especializados e gratuitos, mas também promove uma abordagem adaptada às necessidades individuais de cada paciente. Com uma equipe dedicada e capacitada, o projeto transforma sorrisos e fortalece laços de confiança e acolhimento.

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