Familiares e vítimas do naufrágio em Cotijuba fazem ato em Belém pedindo rapidez em investigações
Após quase dois anos da tragédia, o processo sobre o acidente continua em andamento
Familiares, amigos e sobreviventes do naufrágio na ilha de Cotijuba, acidente que resultou na morte de 24 pessoas em 2022, realizaram um ato em frente ao Fórum Criminal de Belém, na manhã desta quarta-feira (8). A principal demanda dos manifestantes é a aceleração no julgamento do caso, que continua tramitando na Justiça.
Vanildo Lopes, de 59 anos, mora em Cachoeira do Arari, no Marajó, e é um dos sobreviventes da tragédia. Ele conta que perdeu a sogra e as duas filhas, uma de 11 anos e outra de 17, que estava grávida e vinha para Belém dar à luz. A vítima relembra os momentos de medo que viveu.
“Ele (o condutor do barco) entrou em uma área que não conhecia. Alí é só pedra. Ele bateu na pedra e talvez tenha ‘rasgado’ a lancha por baixo. Ele não deixou ninguém pegar colete e gritava para ninguém pegar. Quando vi o motor cheio de água, tirei minha família para fora do barco. Éramos 10, mas só peguei 5 coletes. Tava aglomeração e não consegui tirar mais nada. Quando fui pegar minhas filhas que estavam na pro, o rapaz jogou a âncora e o barco virou. Foi tudo muito rápido. Eu não consegui salvar as minhas filhas. A mais velha tava gestante e já ia ter o bebê”, lamenta.
Regiane Seabra, 35 anos, participou do ato representando as famílias das vítimas que morreram e também sobreviventes, pois a tia e o tio estavam na lancha Dona Lourdes II.
“O objetivo é pedir celeridade processual. Hoje faz um ano e oito meses do naufrágio e nada foi feito. O processo está parado. Nós pedimos que seja marcada a data da audiência, que as diligências processuais possam ser cumpridas para que o processo ande e as vítimas sejam ouvidas nessa fase. Infelizmente o acusado está solto. E isso deixa o sentimento de muita injustiça, porque agora, dia 12 de maio, vai ser o Dia das Mães. Aflora mais esse sentimento de perda e desamparo. Ele tá solto, vivendo a vida dele normal, perto dos familiares. Nós, quanto familiares da vítima, estamos nessa ausência”, declara Regiane.
A autônoma Layanni Batalha tem 29 anos e também participou do ato público. Ela mora em Cachoeira do Arari. “Eu perdi a minha mãe, Dalva, que tinha acabado de completar 50 anos no ano do acidente. O meu filho, que tinha 6 anos à época, é sobrevivente. A gente quer celeridade, para o processo”, afirmou. “Já vai fazer quase 2 anos dessa tragédia e a gente não teve resposta de nada”, contou.
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Layanni não quer que essa tragédia seja esquecida pela sociedade. “Esse ato é para que a nossa voz seja ouvida. A gente não vai parar de lutar e clamar por justiça e clamar por melhorias no nosso transporte”, afirmou. Ela acrescentou que o sentimento das famílias é uma mistura de “revolta e tristeza”. Ela contou que, depois do naufrágio, o filho dela ficou traumatizado. “Depois do acidente ele ficou agressivo. E, quando viaja de barco, fica nervoso e diz que não quer morrer. E, hoje, faz acompanhamento psiquiátrico”, afirmou.
Processo está dentro de um "prazo razoável", diz defesa do comandante do barco
Dorivaldo Belém, advogado do comandante da “Dona Lourdes II”, diz que, na visão dele, o processo segue dentro de um “prazo razoável”, levando em consideração o número de vítimas e a complexidade de toda investigação. “O processo está tramitando na Vara de Júri e foram pedidas várias diligências, para que seja marcada a audiência de instrução e julgamento. É demorado porque é complexo, muitas vítimas e diligências a serem feitas. Entendemos que a manifestação é pertinente. O processo não pode seguir na velocidade que se esperava, pela complexidade. Ao meu ver, ainda está dentro do prazo razoável de tramitação”, disse ele.
“A gente espera que com essa audiência, a partir dos especialistas e das testemunhas seja comprovado o que o piloto diz, que o barco era bom, não havia excesso de passageiros e que o caso foi acidente da natureza. A defesa também aguarda espera que o desfecho seja o mais breve possível para provar a inocência do piloto”, concluiu Dorivaldo.
Relembre o caso
A lancha “Dona Lourdes II” naufragou no dia 8 de setembro de 2022, na Baía do Marajó, próximo à Ilha de Cotijuba, em Belém. O naufrágio resultou na morte de 24 pessoas (13 mulheres, seis homens, quatro crianças e um bebê). A última vítima fatal a ser encontrada morta foi Sophia Loren Andrade dos Santos, de apenas 4 anos, após 26 dias de buscas nas águas. Os sobreviventes foram 66. A embarcação operava de forma clandestina, não estando autorizada a oferecer o serviço de transportes de passageiros. Além disso, os equipamentos de segurança, como os coletes, estavam em desconformidade com as normas em vigência.
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