Autismo em foco: saúde mental para pessoas com TEA é essencial para desenvolvimento
Acompanhamento ajuda no desenvolvimento de habilidades do autista e no preparo da família
Saúde mental é um direito previsto inclusive na Constituição Federal, que inclui também pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A importância e os benefícios do cuidado com a saúde mental desse público é o tema da terceira reportagem do Autismo em Foco.
A pedagoga Evellyn Silva, 38, é mãe de gêmeos: Clarisse e Heitor, de 3 anos de idade. Apesar de gemelares, um deles foi diagnosticado com autismo e o outro não ainda bem cedo. "Eles nasceram prematuros. A Clarisse ficou só 15 dias internada e o Heitor ficou 21. Hoje a gente entende que desde aí, tudo contribuiu para o diagnóstico de autismo que ele viria a receber mais tarde", conta Evellyn.
Evellyn lembra que, até o primeiro ano de idade, o desenvolvimento dos dois era muito semelhante, mas então, Heitor começou a ter fixação por letras, números e formas geométricas e se diferenciar da irmã, inclusive aprendendo a ler muito cedo. Não demorou para que a pediatra suspeitasse de hiperlexia: condição de habilidade de leitura excepcional em idade precoce, mesmo que a pessoa não tenha habilidades linguísticas.
Foi quando a família foi orientada a buscar apoio multidisciplinar. Heitor começou a fazer tratamento com fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional.
"Heitor logo cedo já sabia de muita coisa, mas ele não sabia lidar com essas coisas porque era só um bebê. A gente procurou também o neurologista que apontou que ele tinha autismo nível 1. Eu já desconfiava, mas o laudo foi importante para um trabalho mais direcionado", conta a mãe das crianças.
A partir de então, Heitor passou a fazer acompanhamento psicológico também, o que, associado aos demais tratamentos, contribuiu bastante para a evolução de habilidades do pequeno.
"A gente chamava e ele não olhava. Dava uma atribuição, ele não fazia. Ele não fazia tarefas simples, mas hoje já faz, já olha, já compreende uma demanda. São sinais visíveis do desenvolvimento dele".
Terapia ocupacional auxilia no desenvolvimento
Evellyn destaca que a Terapia Ocupacional (TO) tem ajudado Heitor a desenvolver habilidades que, apesar de básicas, ele não conseguia fazer sozinho, ainda que, por outro lado, tenha habilidades excepcionais de aprendizado:
"O Heitor tem habilidade de escrever, pintar, montar, já sabe inglês, mas não come bem sozinho, não sabe ainda escovar os dentes. A TO ajuda nisso, nas tarefas do dia a dia", diz a mãe.
A terapeuta especialista em TEA, Paloma Mentes, destaca o principal objetivo da terapia: proporcionar autonomia para o autista. "Quanto mais cedo a criança tiver suas habilidades desenvolvidas, trabalhadas e estimuladas, mais chances de evoluir a funcionalidade, autonomia e independência ao longo da vida".
Ela também orienta que pais busquem se informar e que procurem sempre terapias baseadas em evidências científicas. "Existe um rol de terapias que trata dessas 28 práticas que as pessoas podem apostar que vai ter eficácia comprovada cientificamente, como a integração social, análise de comportamento aplicada, dicas visuais, exercício e movimento e terapia mediada por música".
Acompanhamento para a família também
Não foi apenas Heitor que precisou de acompanhamento. A própria mãe passou a fazer terapia, o que foi fundamental para aprender a lidar com a própria saúde, também pensando no melhor cuidado a oferecer para o filho:
"A gente precisa disso, a mãe especificamente, que lida mais diretamente. Eu não vou dizer que é leve, mas a gente consegue amenizar, porque a gente busca, estuda, vai atrás de informação e aprende a lidar melhor com os desafios".
A história de Heitor e a atitude de Evellyn se relacionam com o que orienta a psicóloga especializada em TEA, Eduarda Coutinho. Ela explica que a psicologia pode ajudar a criança a se desenvolver, seja na aquisição de habilidades comportamentais inexistentes ou no desenvolvimento de habilidades sociais. Mas que também ajuda os pais e responsáveis a estarem preparados.
"No início, esse acompanhamento pode ajudar na aceitação do diagnóstico. Depois, pode ajudar essa família a lidar com todas as dificuldades que o Autismo traz, não só para vida da criança, mas para a vida de toda família. E uma das maiores dificuldades é lidar com o preconceito que existe em nossa sociedade".
Entretanto, Eduarda ressalta: "Na área da Psicologia o profissional precisa ser especialista, ter Mestrado ou Doutorado em Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e esse profissional vai estar apto a trabalhar com a criança autista, seja ela uma criança Nível 1, 2 ou 3 de suporte", informa a psicóloga.
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