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Ausência de ritmos paraenses no Rock In Rio gera debates entre artistas e público

Os mais de 15 ritmos musicais presentes no festival, não contemplam a música nortista e paraense em line-up da edição 40

O Liberal
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Com 73 atrações confirmadas, cantando mais de 15 gêneros ou estilos musicais, o festival Rock in Rio chega na sua edição 40, com estreia no dia 13 de setembro. Os artistas de sertanejo, samba, MPB, bossa nova, música clássica, rap, trap e pop nacional vão se apresentar em sete dias de evento.

No dia 21 de setembro, terá o Dia do Brasil, fazendo uma grande mescla da música brasileira.

Essa mistura musical podia ser comemorada, principalmente, porque este ano, mais um ritmo estreia na edição: o sertanejo. Inclusive, em coletiva de imprensa, Roberto Medina, criador do festival, destacou a importância desse momento: “Acho que a gente precisa sair da bolha que a gente está. A música une as pessoas. O que fez a gente comemorar esses 40 anos foi olhar para frente e não para trás. A história é bonita, mas o sonho era muito difícil”.

O momento poderia ser mesmo de comemoração, mas a pergunta que fica é: E o Norte? 
As cantoras Joelma e Fafá de Belém, que juntas somam mais de 80 anos de carreira, questionam nas redes sociais a ausência da música paraense nesse universo que tem dezenas de artistas.

“Os sons do Pará, os sons do Norte, a minha música também são música Brasileira”, escreveu Joelma no X, antigo Twitter.

“A Amazônia não faz parte do Brasil? A cultura amazônica, nortista, não é parte deste país? Onde está Dona Onete, Gaby Amarantos, vencedora do Grammy, Joelma, Aíla, onde estou eu? Onde está o carimbó, o siriá, o boi bumbá, o Caprichoso e Garantido, Manoel Cordeiro, Felipe Cordeiro, Joelma Klaudia, Gang do Eletro, Aparelhagens (Carabao, Crocodilo, Tupinambá), Nilson Chaves, Arthur Nogueira, Suraras do Tapajós, Kaê Guajajara, as guitarradas do Pará, o tecnobrega, artistas indígenas, e TANTOS OUTROS que levam a cultura do Norte no seu sangue e na sua vida? O Norte será sempre visto como peça decorativa de festas da elite? ”, questionou Fafá na sua postagem no Instagram.

Como foi citado por Fafá, a cantora Gaby Amarantos conquistou no fim do ano passado o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa pelo álbum "TecnoShow". Nem esse fato foi levado em consideração na hora do Rock In Rio montar o line-up desse ano. Vale lembrar que essa premiação internacional, organizada pela Academia Latina da Gravação, celebra o que tem de melhor na música latina.

Esse álbum foi produzido por Félix Robatto, que também se pronunciou sobre o tema no seu perfil no Instagram: “O Norte sempre foi cota para um monte de festivais de música do país. O Rock In Rio é só a ponta do iceberg. Tem um monte de curador que não conhece nada daqui de cima e se diz especialista em música brasileira”.

Felipe Cordeiro escreveu também no Instagram: “Alerta de música parcialmente brasileira”. Em um vídeo, o artista falou sobre a música da Amazônia sempre entrar em eventos grandes como uma espécie de cota. “Se essas pessoas que ocupam lugares de decisão sobre o nosso caldo cultural, não levar em conta a Amazônia dentro do Brasil, estaremos sempre falando de uma música parcialmente brasileira. Quase um estelionato, porque você está mentindo!”, explica o artista.

Em conversa com a cantora Keila Gentil, que esteve no palco do Rock In Rio nos anos de 2019 e 2022, em palcos secundários, longe da visibilidade grandiosa do festival, foi questionado o porquê da ausência de ritmos nortistas.

“O último projeto que participei foi a Nave, estava lindo porém escondido. Sempre segregado como uma atração exótica. Não sei nem responder o porquê da falta de nortistas no festival, porque sinceramente acho que a gente já fez tudo, o que falta é a gente se centrar no que a gente tem de tanto poder e fazer o nosso núcleo. Porque a gente já chegou lá várias vezes! A Joelma precisa provar o quê? Gaby o que? E a Fafá de Belém? O que elas precisam provar para o mercado e para o Brasil, para o mundo da música? Nada! Mas é sempre assim, parece que a gente enxuga gelo. Sempre tendo que provar o que a gente é importante, que a gente dá conta, que a gente pode e que a gente tem valor. É cansativo! Falta de qualidade não é. É puro preconceito infelizmente”, analisa Keila Gentil.

No último Rock In Rio, a multiartista paraense Aíla fez a direção musical de um projeto voltado para a cultura amazônica. Foram mais de 50 artistas Amazônidas, de diversos estados. “Fico triste de ver que depois de um projeto tão potente como esse, surge uma curadoria musical que cria um grande encontro de música brasileira no Rock in Rio, que não considera a música do Norte como parte da música brasileira. É desanimador”, pontua a artista.

Com propriedade, Aíla faz uma análise como multiartista sobre as possibilidades que o festival proporciona para a música brasileira, exceto para a nortista. “Faltam curadores e diretores artísticos brasileiros que pesquisem de fato a música brasileira, de Norte a Sul, de todas as regiões do país. Falta vontade e interesse para imergir na música do Norte, para além da música do Pará também. Falar da Amazônia não é falar só de Pará”, pontua.

 

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